quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Silenciosamente íntimos

- Queria não me sentir só.
- Desculpe, você me conhece?
- Nunca a vi!
- Por que isso?
- Se me achar um fraco será irrelevante.
- Não.
- Não?
- Talvez.
- Não vai me dizer nada?
- Gostaria.
- E...?
- Estou repleta de vazio. Até minhas palavras se tornaram ocas.
- Sinto muito.
- Não sinta. Só me faça companhia.
- Estou tão vazio quanto você. Só tenho o meu silêncio.
(Silêncio)
- Aceito.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Perdida em mim.

- Você é engraçada, sabia?
- Acredito que bom humor atrai bom humor.
- Então porque eu? Logo eu, cheio de machucados não cicatrizados, me aproximei de você?
- E quem disse que eu também não tenho feridas abertas em mim?
- Por que você sorri, então?
- Por que você se aproximou de mim?
- Porque você me faz sentir bem.
- É por isso que sorrio. Lembra que te falei que bom humor atrai bom humor?
- Sim, e...?
- É por isso que sorrio... pra não me afastar de mim mesma.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A audição

- De onde vem essa sua vontade de atuar? - Questionou-me o rapaz responsável pelo teste
- Antes de responder a sua pergunta, você saberia me dizer quem é você? - Perguntei sentando à beira do tablado.
- Como assim? Que pergunta é essa? - Seu tom era áspero
- Você não entendeu a pergunta ou não sabe a resposta?
- Quem sou eu? Eu sou um estudante de mídia de 20 anos. Faço uns bicos, ajudo em casa.. Mas por que você quer saber disso? Isso é relevante?
- Então pra você o ser é secundário? - Encolhi as pernas e as abracei
- Não sei, nunca pensei nisso. E você? Quem é?
- Vou te dizer quem sou. Eu sou os pedaços de tudo. Faço-me e refaço-me a cada segundo. Posso ser uma em sua frente mas acredite que sou mais de um milhão. Quando você me perguntou de onde vem a minha vontade de atuar, cheguei a conclusão de que atuo o tempo todo. - Sorri abaixando a cabeça. - Não sou essa que está aqui mas também não sei se sou a que está lá fora. Nesse momento sou uma entrevistada e quando chegar em casa serei a filha, a irmã, a namorada, a amiga. Não existe um eixo central pra isso. O ser me absorveu. Estou perdida em suas inúmeras facetas e ciladas. Isso não é mais uma questão de vontade. É mais que necessidade. Isso sou eu.
- Essa é a sua resposta?
- Não. - Levantei enquanto pegava minhas coisas - Essa sou eu.
- Como posso confiar nessa resposta depois de tudo o que me disse? Ele segurou meu braço
- Se não entrar no meu roteiro, você não pode. - Bati a porta e segui.
Hoje parei pra pensar em quem sou. Reparando nos meus amigos, vejo minhas gírias, meus gestos, meu beijo dado na testa. Ao andar pelas avenidas, percebo que sou nada nesse infinito finito. Ao passar pelo centro, observo um menino dedilhar seu violão e até ali consigo me enxergar. No momento em que é entoado o . É bem ali que estou e só eu enxergo isso.
Topei que estou na saudade repentina, na risada capaz de substituir toda uma conversa.
Estou no abraço - seja o aconchegante da chegada ou o comovente da partida -.
Se houver falta de eloquência, procure por mim, e ali estarei.
Meu coração está por aí - não despedaçado mas dividido -. Ele está em cada digital minha deixada pelo mundo afora. Nas minúcias vitais.
Me busque no intangível, na privação, no eterno. Só me busque, por favor! Você vai me encontrar. Só hoje me toquei que não sou o inteiro. Sou os detalhes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Basta para cada dia o seu mal.

Falar do que passou é doloroso. Vejo as situações escapando pelos meus dedos e não tenho condição de contê-las. Sinto o passado como um vulto mas não sou capaz de perseguí-lo. Então eu sigo. Invento alguns planos, dou risada da minha postura no momento, finjo acreditar que tudo tende a mudar. Vez ou outra assisto vídeos de pessoas como eu que se encontraram nesse universo absorvedor de covardes que não dão a cara pra bater. Agora eu estou aqui! De frente pra platéia encarnando com dom perfeito o papel de coadjuvante esperando um brecha para protagonizar. Suo frio, tenho medo do que virá. Mas vou. Com medo de que a vida me bata mais do que possa suportar, mas vou. Eu e Deus. Nós dois até o fim, num elo que só pode ser quebrado por mim. Me agarro na fé e sigo. Dou um drible na insegurança, uma caneta no medo, tropeço, caio. Mais uma vez de pé, retorno para o jogo. Posso ter o que perder mas tenho muito mais a ganhar. À noite, quando não existe o som de tantas vozes abafando os meus desejos, aproveito o silêncio para escutar a minha voz. A voz de Deus. Renovação do espírito é meu segredo. E o dia que virá se encarregará dele mesmo.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre a saudade.
Saudade não é o que a gente sente quando a pessoa vai embora. Seria muito simples acenar um 'tchau' e contentar-se com as memórias, com o passado. Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê "sadio". Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por 'um pouco mais'.

Saudade não é olhar pro lado e dizer "se foi". É olhar pro lado e perguntar "cadê?".

(Textos Beeshop)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tão sutil quanto a brisa vespertina
Sua presença acalma as batidas do meu coração
Me repousa na segurança do sentimento
Faz-me ter a certeza de que amanhã será melhor.

Seus sorrisos são o aconchego necessário de minh'alma!
Percorrendo sua face com a ponta dos dedos
Vejo o quão abençoada sou por possuir muito mais
Que toda riqueza desse mundo.

Riquezas mesquinhas, que se esvaem com o tempo
Mas aqui, bem aqui nas minhas mãos
Tenho o que ninguém por mérito próprio poderia conquistar.
E então a paz repousa em mim. Em você. Em nós.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Embora não faça sentido
Escrevo cartas para ninguém,
Inspiro poesias no vácuo
Guardo sentimentos vazios.

Só quero poder ser eu
Livre de qualquer compromisso
Livre de qualquer civilidade
Quero gritar sem punição.

Quero alguém que me faça sorrir.



Com frequência mergulho em uma interminável nostalgia.
Ah! Lembro com detalhes daquelas risadas e da despreocupação
que nos fazia ficar durante horas nas calçadas -a maioria das vezes- só para termos certeza que ainda tínhamos um ao outro!
Onde tudo foi parar? Qual foi a palavra que desfez nosso elo?
Me faça retroceder e recuperar seu abraço.
Não sei mas quem você é;
Tanta camuflagem feita unicamente de sarcasmos baniu a pureza
de minhas intenções ao sonhar com uma vida menos dolorosa pra nós dois.
A sua instabilidade sempre se encaixou perfeitamente com meu jeito previsível -quase uma balança sentimental favorável-
O que me dói é saber que no momento em que ela desequilibrou eu não estava lá para ajustá-la!
Descuido meu, tristeza minha.
Sua indiferença só faz com que eu deseje ainda mais que você
siga sua vida enquanto aos poucos me curo do remorso que foi não ter comparecido as últimas conversas pelas ruas do nosso bairro.
Ah quão querido bairro!
Ainda tem o nosso cheiro, ainda lamenta nossa ausência.